"Educação vai passar por revolução", diz ex-executivo do Google
Após anunciar sua saída para a Anhanguera Educacional, Alexandre Dias quer usar tecnologia na transmissão do conhecimento.
Alexandre Dias dá risada quando questionado sobre o burburinho no mercado de tecnologia após o anúncio da sua saída do cargo de diretor-geral do Google no Brasil para assumir a presidência da rede de ensino Anhanguera Educacional. “A saída de um executivo sênior da empresa sempre vai chamar a atenção”, disse ao iG em entrevista ao telefone. Após dois anos à frente da filial brasileira da maior empresa de tecnologia do mundo, Dias está entusiasmado. O motivo? A chance de trabalhar num mercado que cresce muito no Brasil e que deve passar por uma revolução nos próximos anos. O executivo quer usar sua experiência para mudar a maneira como se transmite conhecimento no País. “Será como navegar num portal ou numa loja virtual, mas ao invés de fazer compras a pessoa estará aprendendo”, afirmou. Confira os principais trechos da entrevista:
iG: A sua decisão pegou muita gente de surpresa e deixou o mercado agitado?
Alexandre Dias: É um movimento que chama a atenção por duas razões. A primeira é que se trata de mais uma notícia sobre educação, assunto que tem rendido muitas manchetes nos últimos anos. E depois por se tratar de Google. A saída de um executivo sênior da empresa sempre vai chamar a atenção. Mas o que importa é que estou entusiasmado e contente. O desafio é enorme e instigante.
iG: O que levou o senhor a deixar a maior empresa de tecnologia do mundo para trabalhar na Anhanguera Educacional?
Dias: Trabalhar no Google é uma experiência única. Fiz isso por dois anos, cumpri um ciclo num setor que é muito dinâmico. Acho que dei uma contribuição positiva. Mas a vida não para aí. Se você analisar, a operação no Brasil é pequena, tem 200 funcionários. A saída do cabeça da empresa gera, no mínimo, curiosidade. O convite da Anhanguera me fez pensar que o ciclo no Google poderia estar no final e acabar antes do previsto. E que poderia entrar numa nova empreitada onde pudesse ser desafiado pela ambição do projeto. A educação é um setor que passa por um processo de profissionalização e que atrai capital e gestão de idéias. Mais do que nunca, é um setor que vai passar por uma revolução. Hoje a educação ainda é muito tradicional, usa giz e quadro para transmitir conhecimento. Tem gente que discute se esse é o melhor método de passar o conhecimento.
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iG: Que tipo de revolução podemos esperar na educação?
Dias: Algum tempo atrás, a tecnologia começou a impactar a vida do consumidor, que passou a adotar um computador e o transformou numa commodittie. Isso possibilitou a popularização do conteúdo e ajudou a revolucionar indústrias como música e produção de conteúdo. Agora, a tendência é que mude também a educação. Minha bagagem vai ajudar a estruturar isso.
iG: Já é possível adiantar que tipo de novidades serão adotadas pela Anhanguera?
Dias: A partir de agora me junto a um grupo de executivos e acadêmicos que têm a missão de precisar e identificar uma visão estratégica. A ideia é discutir que vai acontecer com o ensino. Depois vamos traduzir isso para um modelo de negócio.
iG: O senhor pode dar um exemplo?
Dias: O que chama a atenção lá fora é a visão de escalabilidade da tecnologia na educação. Alguns grupos educacionais têm data center e oficinas de conteúdo que distribuem conteúdo em escala para milhares e milhares de alunos. É como navegar num portal ou numa loja virtual. Mas, ao invés de fazer uma compra ou ler uma notícia, você passa por uma experiência de aprendizagem.
iG: Quando começaremos a perceber essas mudanças na Anhanguera Educacional?
Dias: A expectativa é montar um mapeamento disso para os próximos cinco a dez anos, mas queremos buscar algumas mudanças imediatas. Vamos evoluir o modelo de educação a distância nos próximos 12 meses. Ainda está na etapa de discussões. Tenho coisa na cabeça, no papel. Mas é preciso discutir melhor.
iG: Em cinco anos, a Anhanguera Educacional quer triplicar o número de alunos matriculados. Como conseguir isso?
Dias: É um salto grande. Mas em 2005 a empresa tinha 20 mil alunos. Naquela época, falar em 300 mil era um sonho distante. A ideia agora é acelerar o crescimento. Pelo histórico, isso é possível. Para atrair, vamos usar três alavancas. A primeira é o modelo orgânico de crescimento, onde visualizar espaços no mercado para faculdades e trabalhar o mercado da região. Também vamos fazer aquisições. A Anhanguera é a empresa que mais fez aquisições no mercado de educação. Por fim, nossas unidades estão passando por um processo acelerado de maturação.
iG: Por que focar nas classes C e D?
Dias: Porque a oportunidade está nessas classes sociais. A classe A já é bem servida, sem falar que se trata de uma classe menor. A classe média vem passando por um crescimento do poder aquisitivo e tem uma carência de serviços customizados para sua realidade.
iG: Para deixar o Google o senhor recebeu uma proposta irrecusável?
Dias: O aspecto financeiro compõe um portfólio, mas não é decisivo. Não diria que foi dinheiro que me fez vir para a Anhanguera. Atuar numa empresa brasileira, num setor de alto crescimento, de oportunidades e de profissionalização são pilares mais importantes do que isso.